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Mostrando postagens de novembro, 2021

Depois

Depois que você deixou a casa vazia mesmo morando nela; depois de ter duvidado dos meus planos lançando um sorriso amarelo sobre a narrativa dos meus sonhos, não mais houve fogo que aquecesse o meu café nem água quente que desse conta de relaxar o meu corpo cansado. A decoração da casa perdeu a cor e a graça. Depois de você ter gargalhado dos meus medos; depois de ter falado mais alto que deveria; depois de ter lançado olhares e suspiros de impaciência pela minha demora ao meu trocar, não houve mais filme ou série que me prendesse até tarde, nem jantar de sábado à noite que me fizesse ficar horas cozinhando feliz. Depois que você não mais fez questão de construir o nosso lugar, regar nossas plantas e organizar nossas gavetas, nem mesmo pijamas novos e lençóis limpos puderam me aconchegar. Mesmo o espetáculo do por do sol ou da lua cheia começou a passar despercebido. O frio entrou, a noite caiu, o leite azedou, a pia entupiu e o café esfriou. E o amor saiu para construir outro ninho.

A Arte da Travessia

Desde que a vida se materializa estabelece-se como a parceira mais fiel da morte. Nascemos caminhando para o fim. E o ponto de chegada nem sempre está localizado na velhice. Justamente por não sabermos em que ponto da travessia daremos nosso último suspiro, antes de cairmos feito um pacote flácido, é que viver se torna urgente. A vida urge; e, por isso, faz da travessia algo mágico, que nos foge o tempo todo, que se esvai como o vapor, delicada e rapidamente some... Vemo-la agora e já se expande apagando-se. Aproveitemos esse presente que é a travessia. Olhemos e vejamos; beijemos e cheiremos; lambamos e ouçamos a vida! Porque ela é eterna somente enquanto dura.